RECORDAR ENSINA – Os ratos que emprestam Brasília
08:44
Falarei sobre ratos. Ratos de Brasília. Ou ratos em Brasília. Ratos com pelo, focinho, rabo, olhos miúdos. Nada a ver com o que vocês imaginam ou possam imaginar.
De 4 de maio para cá, oito pessoas já morreram no Distrito Federal e mais três a poucos quilômetros da fronteira que separa o Distrito Federal de Goiás.
Elas foram vítimas do hantavírus – um vírus que se hospeda em ratos silvestres e que se dissemina por meio de suas fezes, urina e saliva. Respirar poeira com partículas de secreções de ratos silvestres pode significar contrair a doença.
Ela mata o infectado num prazo de dois a 42 dias. Seus sintomas são os mesmos de qualquer gripe. Não tem remédio para ela. Nem vacina que a previna.
Sobrevive quem tem organismo forte – ou mais forte. Oito pessoas sobreviveram. Existem mais cinco em hospitais à espera de confirmação do diagnóstico.
Rato silvestre vive no meio do mato. Mas quando o homem começa a ocupar o espaço que era dele, o rato se afasta. Ou então faz o caminho inverso – vai buscar alimento junto a quem lhe invadiu o espaço.
É o que ocorre no Distrito Federal. A política irresponsável e criminosa de ocupação de terras inchou Brasília. Um lugar que deveria ter menos de um milhão de habitantes no final do século passado tem mais de dois milhões. Ganhou um cinturão de cidades-satélites para onde migraram milhares de brasileiros atrás de lotes dados de graça em troca dos seus votos.
A doença do rato silvestre é só uma amostra do mau que governantes inescrupulosos fizeram a Brasília. E ainda fazem. Temos modernos viadutos, uma ponte que é uma das mais belas do mundo, a renda per capita mais alta do país, e os melhores indicadores sociais.
Mas temos tudo isso na face exibida pela mídia para o resto do país todos os dias. A outra face só a conhece bem quem vive aqui. E não se incomoda em abandonar o conforto do Plano Piloto e pisar na lama das cidades-satélites.
