Produção de mirtilo impulsiona renda de agricultores do DF
Produzir mirtilo como forma de desenvolver o turismo rural. Foi assim que, há um ano, a produtora rural Leandra Alvarenga e a família dela decidiram iniciar esse cultivo na região da Rota do Cavalo, em Sobradinho. Também conhecida como blueberry, a fruta típica da América do Norte e de regiões frias tem ganhado espaço na gastronomia e nos lares brasilienses.
A ideia, conta Leandra, é unir memória afetiva com um produto com bom retorno financeiro. Foram três anos de estudos até começar o plantio ao lado do marido, Evaldo, e da irmã, Zuilene Soares, que são servidores públicos.
Hoje, com o apoio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF), são mais de 2 mil mudas plantadas em 2,5 mil metros quadrados. Embora tenham tido alguns percalços no início, eles já estão na segunda safra, que promete já ser bem melhor que a primeira. A Emater-DF tem nove produtores de mirtilo cadastrados, oito dos quais com o plantio em formação. Com isso, existe uma expectativa de produção de cerca de 48 toneladas de mirtilo para serem comercializadas já em 2025. A média de produção por hectare é de 16 toneladas.
Fruta saudável
Cada pé de mirtilo, conta Leandra, pode chegar a produzir quatro quilos ao ano. E o retorno financeiro vale a pena. O pacote com 150 gramas sai da propriedade a R$ 12,50. Por enquanto, eles focam a venda direta do produto in natura, mas também começaram a produzir geleias, sucos e doces, além de firmarem parcerias com outros produtores que preparam de cucas a licor de mirtilo.
“Nunca fomos produtores; quando chegamos aqui, começamos a pesquisar, escolhemos a planta e buscamos apoio da Emater-DF”, conta Leandra, que deixou o mercado financeiro para uma mudança completa de vida com a família.
Zuilene, irmã de Leandra, lembra que o mirtilo foi escolhido também por ser uma fruta de grande potencial para a saúde. “O mirtilo é a fruta da longevidade”, aponta. “Vários estudos mostram que auxilia no combate à depressão, diabetes e problemas cardíacos. Além disso, é uma fruta de valor agregado. Demanda pouca área e é bem valorado”.
Assessoria técnica
“Apesar de ser uma planta rústica e resistente, o mirtilo é delicado, e a colheita precisa ser feita à mão, com armazenagem em área fria logo depois”
Clarissa Campos, extensionista rural da Emater-DF
A extensionista rural e agrônoma Clarissa Campos, da Emater-DF, dá o suporte técnico para a produção de Leandra. Ela conta que, por se tratar de uma cultura nova no DF, o mirtilo tem crescido no interesse dos produtores, que veem boas oportunidades no mercado.
Isso porque a maior parte dos mirtilos que chega aos consumidores vem do Peru. Embora seja originária do Hemisfério Norte, a fruta tem variedades que se adaptam muito bem ao clima tropical. Duas dessas são as mesmas plantadas por Leandra e sua família: biloxi e emerald.
“O plantio precisa de conhecimento técnico”, explica Clarissa. “É preciso ter uma estrutura adequada no solo, e a adubação é feita com água – mas um dos gargalos é a colheita. Apesar de ser uma planta rústica e resistente, o mirtilo é delicado, e a colheita precisa ser feita à mão, com armazenagem em área fria logo depois.”
Aí entra o trabalho da Emater-DF, que acompanha da produção ao escoamento, passando pelo manejo e a agroindústria. Os produtores que quiserem contar com esse suporte podem procurar uma das 15 unidades da empresa no DF.
Rota da Fruticultura
Consultor do programa Rota da Fruticultura, o pesquisador Firmino Nunes de Lima ressalta que o mirtilo é uma fruta que gera alta rentabilidade para o produtor. Por isso, acredita que políticas públicas que englobem a fruta, como a própria Rota da Fruticultura, contribuem para aumentar a produção e, consequentemente, o mercado no DF.
A Rota da Fruticultura é uma ação do Ministério do Desenvolvimento Regional em conjunto com órgãos parceiros, associações e entidades locais. O objetivo é elaborar estratégias para aumentar a produção e o fornecimento de frutas para mercados internos e externos, gerar emprego e renda na região, promover o intercâmbio de experiências e tecnologias, diversificar e implantar novas culturas e fomentar e motivar novos agricultores na produção de frutas no DF e Entorno.
Um dos desafios é o alto custo de implantação, que ultrapassa R$ 300 mil por hectare. A variedade cultivada no DF, contudo, traz uma enorme vantagem sobre as produzidas nas regiões mais frias do país, pontua Firmino.
“Conseguimos frutos o ano todo”, afirma o pesquisador. “A grande vantagem é a não competitividade com o mercado internacional, que colhe no frio”. Isso ocorre por conta das variedades plantadas aqui e em outros locais com uma produção mais tradicional.
Em dezembro, durante a AgroBrasília 2023, foi assinado um acordo de cooperação técnica (ACT) com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), formalizando a atuação da Emater-DF e da Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural do DF (Seagri) no trabalho realizado junto aos produtores rurais do DF para aumentar a produção de frutas, como açaí e mirtilo.