Filme Madame Durocher resgata história para mostrar luta das mulheres
O filme Madame Durocher, dirigido por Dida Andrade e Andradina Azevedo, conta a história de Marie Josephine Mathilde Durocher, a primeira mulher a conquistar o título de parteira no Brasil e a se tornar membro oficial da Academia Nacional de Medicina no século 19. O longa, que estreia no Festival Varilux de Cinema Francês e nos cinemas de todo Brasil no dia 7 de novembro, explora a jornada de uma mulher que enfrentou barreiras sociais e culturais para se estabelecer no campo da obstetrícia em uma época de intenso preconceito de gênero.
O elenco do longa é composto por nomes como Sandra Corveloni, Jeanne Boudier, Marie-Josée Croze, Isabel Fillardis, Armando Babaioff, e Mateus Solano.
Ao Metrópoles, Sandra, vencedora do prêmio de Melhor Atriz em Cannes, que interpreta Marie Durocher em sua fase adulta, contou que para dar vida à personagem, além de informações históricas, buscou uma compreensão profunda das motivações da protagonista e de sua trajetória.
“Para compor Madame Durocher eu pesquisei tudo que está disponível na internet: textos, imagens, sites. Também me inspirei nas conversas com os roteiristas para entender quem foi e como viveu Marie Durocher. Aos poucos, junto com a caracterização, figurino e direção, fui encontrando um corpo e uma voz que desse continuidade ao trabalho da Jeanne Boudier, que vive Marie até a maturidade”, explicou Sandra.
“Como é uma cinebiografia, me preocupei em contar essa história de forma respeitosa e potente, me entreguei de corpo e alma e me senti muito honrada em poder viver uma parte dessa trajetória”, garante Sandra.
A atriz afirmou também que, ao interpretar Marie, sentiu que a personagem a ajudou a encontrar forças para enfrentar desafios pessoais: “Conhecer e respeitar a trajetória das mulheres que vieram antes de nós me ajuda a continuar, e acredito que pode ajudar outras mulheres a entender melhor nosso caminho até aqui”.
Sandra destacou também a importância do filme para o fortalecimento da luta pelos direitos das mulheres. “Eu estou sempre na busca por histórias que ajudem a dar visibilidade às histórias de mulheres, famosas ou não, dar voz e protagonismo às mulheres é a minha busca no cinema, no teatro, como professora, como mulher. Estrear no Festival Varilux é muito importante para o filme, amplia as discussões, a visibilidade e faz muitas pontes. Com a estreia nos cinemas, no encontro da história com o público, as discussões se expandem e geram trocas e reflexões importantes”, afirmou.
“Filme guiado pela emoção”
A produção do filme foi guiada por um trabalho colaborativo, e o diretor Dida Andrade destacou o impacto da experiência do trabalho com a roteirista Rita Buzzar. Para ele, o processo foi enriquecido pela troca com a profissional.
“A Rita, que tem uma longa carreira tanto no cinema como na televisão, me disse na primeira reunião: ‘Quando somos verdadeiros e o público sente, estabelecemos uma conexão amorosa. Toda vez que amamos alguém queremos contar para todo mundo, este é o boca a boca do cinema’. Levei isso como lição, e tive a oportunidade de estar com ela atrás das câmeras. Quando via que ela estava envolvida na cena emocionalmente, sabia que estava funcionando. Quando não estava, conversávamos e fazíamos a cena funcionar”, conta Dida.
Para o codiretor, Andradina Azevedo, a escolha de um estilo de filmagem dinâmico ajudou a tornar o longa mais próximo do público. “Buscamos sempre um filme que fosse guiado pela emoção, pelo ponto de vista dessa personagem. Por isso a câmera está sempre próxima dela e se move com ela. Isso também foi uma maneira de deixar o filme mais dinâmico e envolvente para o público moderno. Há muitos filmes de época que me parecem um tanto quadrados e engessados. No nosso filme buscamos o oposto”, garante.
Além do aspecto visual, o filme explora questões sociais e culturais ainda presentes na sociedade atual, como o racismo, o machismo e a exclusão de figuras importantes da história.
Para Andradina, Madame Durocher é, acima de tudo, uma história de resistência. Ele acredita que os temas abordados no filme ecoam no Brasil contemporâneo. “A história da Durocher é extremamente relevante hoje. Tem muita coisa que, enquanto filmávamos, falávamos ‘nossa, não mudou nada’. É um espelho para olharmos para a sociedade hoje”, refletiu o diretor.