As dúvidas sobre a nova política industrial – por André Gustavo

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Conheci o ministro e vice-presidente da República Geraldo Alckmin na residência funcional do então senador Severo Gomes, no longínquo ano de 1988. Ele e Maria Henriqueta receberam o jovem deputado, recém-chegado a Brasília para exercer seu primeiro mandato de deputado federal, depois de ter sido deputado estadual e prefeito de sua cidade, Pindamonhagaba, São Paulo. Severo Gomes, que era da região, trabalhou para eleger seu companheiro de luta política. Foi um jantar agradável, o senador paulista era um grande contador de histórias, e Alckmin se comportou como um político noviço. Quieto, discreto e muito educado. É a imagem que guardei dele.

Mas depois deste encontro, ele foi governador do Estado de São Paulo duas vezes, de 2001 a 2006 e de 2011 a 2018, o que não é fácil. É o político que governou o poderoso estado de São Paulo por mais tempo. E chegou a vice-presidente do governo do presidente Lula, do PT, numa manobra política inteligente e esperta. Saiu do PSDB no momento certo e aderiu ao PSB na hora exata. Foi um acordo de conveniência que ajudou Lula a vencer as eleições presidenciais por menos de dois pontos percentuais. Ele funcionou como espécie de garantidor de que objetivos econômicos dos industriais paulistas não seriam relegados ao esquecimento.

O projeto chamado de Nova Industria Brasil prevê financiamentos da ordem de R$ 300 bilhões até 2026, a maior parte originária do BNDES. O governo juntou vários objetivos numa só iniciativa que pretende reduzir a pegada de carbono, obter autonomia em tecnologias de defesa, transformar digitalmente empresas, aumentar a participação da agroindústria, entre outras finalidades. Não está claro como será alcançado cada um destes itens. São enunciados genéricos, que não contemplam metas específicas nem as contrapartidas exigidas dos empresários. Parece ser a resposta ao empresariado paulista e nacional de que alguém se preocupa com a indústria brasileira.

A globalização da economia destruiu muitos parques industriais em torno do mundo. O principal aparelho de telefone celular produzido nos Estados Unidos é desenhado na California e fabricado na China. Fábricas de automóveis norte-americanas se mudaram para o México, na faixa de fronteira, para produzir mais, pagar menos salários e impostos. As principais marcas de tênis são produzidas nos países asiáticos. Algumas empresas brasileiras se mudaram para o Paraguai e até para a China ou Vietnã, país que hoje mais cresce no mundo.

Este é um fenômeno mundial, não apenas brasileiro. O caso do Brasil aponta para criação de áreas protegidas que consolidam o atraso tecnológico e alto preço. A indústria automobilística nacional se estabeleceu no Brasil, no governo JK, com o objetivo de gerar empregos e pagar impostos. Nos anos setenta e oitenta havia montadoras com mais de dez mil empregados. Hoje poucas delas passam pouco de mil operários por unidade fabril. A automatização substituiu a mão de obra em grande parte das operações.

Quando há necessidade da mão humana o empresário procura mercado onde o salário é mais baixo. A indústria automobilística brasileira tem mais de 70 anos continua a ser secundária no mundo, produz equipamentos ultrapassados e de preço elevado. A importação é ainda mais cara, com alíquota de 35% utilizada para proteger a fabricação de automóveis no Brasil, apesar de a operação gerar menos empregos e pagar menos impostos.

Foi assim com a reserva de mercado da informática discutida e praticada no governo Sarney. Só gerou atraso. Não há nenhuma empresa de capital brasileiro que produza equipamentos capazes de competir em preço e qualidade com o equivalente estrangeiro. Tornou a prática do contrabando quase obrigatória. Este é um dos receios que a nova política industrial inspira. O outro é o projeto de economia praticado por Guido Mantega no governo Dilma Rousseff, que provocou enorme recessão no país, desemprego em massa e inflação alta. Um desastre monumental.

A garantia do eventual sucesso no programa de reindustrializar o Brasil está na pessoa do vice-presidente Geraldo Alckmin. Ele não participou do desastre do governo Dilma e tem uma visão distante e completa do problema ocorrido naquele momento. Ele é o fiador de todo este projeto que vai além do atual mandato presidencial. Na Coréia do Sul o governo criou reservas de mercado em certas áreas da economia, mas impôs objetivos critérios para quem aderisse ao programa. As empresas tinham prazo certo para produzir equipamentos equivalentes ao melhor estrangeiro em preço e qualidade. Parece que é isso que o vice-presidente pretende fazer aqui, sem criar reservas de mercado ou financiamento subsidiado para empresas escolhidas. É a promessa.

 

André Gustavo Stumpf, jornalista (andregustavo10@terra.com.br)

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